Como operar um turnaround: Pão de Açúcar do céu ao inferno: Comprar ou vender #PCAR3 após alta de 90% em um mês e 20% de queda em 1 dia? Valuation e recomendação atualizada
- 7 de mai.
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Após subirem 91% em pouco mais de um mês, ontem as ações do GPA (Grupo Pão de Açúcar) chegaram a cair 20% após divulgação do resultado.

Só que de 29/4 a 7/5 as ações, que subiam quase 100% no ano, caíram 35% em apenas 6 pregões (incluindo o pregão de ontem, após o resultado)!

Afinal, o que fez o#PCAR3 desabar?
Menos do que o resultado, o empurrou as ações foi a saída do investidor Tanure, que havia comprado participação relevante na empresa com rumores de planos de uma possível integração com a rede Dia, da qual assumiu o controle.
Após comprar posição relevante, Tanure convocou assembleia para mudança no conselho.
Ocorre que neste interim o investidor Rafael Ferri aumentou sua participação (tanto via compra de ações como aluguel destas, para aumentar o poder de voto) para cerca de 5,86% das ações do GPA, e convocou sua legião de clientes e seguidores para votarem nele e em seus indicados para o conselho da empresa.
Podemos concluir daí que boa parte da alta recente do papel nas últimas semanas provavelmente se deu por estas compras, por devoluções de aluguel para votar e por aluguel sem venda dos ativos, também para ter a opção de voto na assembleia.
De certa forma, portanto, podemos concluir que PARTE DA ALTA RECENTE DESTE MÊS, antes da derrocada, FOI PROVOCADA FLUXO NA AÇÃO, MAIS DO QUE POR FUNDAMENTOS.
O que ocorreu depois, que fez a ação desabar?
Tivemos o resultado da assembleia e o esforço de Ferri rendeu frutos, com o investidor conseguindo mais vagas no conselho e deixando Tanure apenas com 1 assento.
A eleição ocorreu por voto múltiplo, resultando na escolha de conselheiros de diferentes grupos e entre os eleitos para o novo conselho estão:
Christophe Hidalgo (executivo do Casino, assumiu como vice-presidente)
Helene Bitton (diretora de M&A do Casino)
Marcelo Pimentel, (atual CEO do GPA, manteve sua posição no conselho e expressou confiança na nova composição do Conselho)
André Coelho Diniz (diretor do grupo varejista mineiro Coelho Diniz)
Rafael Ferri, investidor individual, foi o mais votado.
Edison Ticle (CFO da Minerva, indicado por Ferri)
Sebastián Los (apoiado por Tanure, ex-CEO do Cencosud Brasil, escolhido como membro independente)
Líbano Barroso (ex-CEO da TAM escolhido como membro independente)
Ronaldo Iabrudi (ex-CEO do GPA, retornou ao conselho)
As indicações de Tanure, Pedro Borba e Rodrigo Tostes, foram retiradas para viabilizar a eleição de outros nomes alinhados ao grupo....
Como consequência da perda das cadeiras almejadas, Tanure desistiu de seus planos para a empresa, desovando cerca de 5% do capital dos 10% que detinha, considerando ações e derivativos, em vendas a mercado no dia de ontem, o que explicaria parte (senão toda) queda no dia.
O volume negociado ontem ultrapassou 106 milhões de ações, muito acima da média diária de 19,5 milhões.
Para complementar, parte das ações alugadas por Ferri para que aumentasse seu poder de voto na assembleia foram devolvidas por ele, também aumentando a pressão sobre os papeis.
Rafael Ferri, que anteriormente detinha 5,86% das ações reduziu para 2,73% ao encerrar instrumentos derivativos que integravam sua participação indireta
Explicado isso, também podemos concluir que A MAIOR PARTE DA QUEDA DE ONTEM (e talvez de hoje e dos próximos dias) FOI PROVOCADA POR FLUXO DE VENDA NA AÇÃO PELOS MOTIVOS DESCRITOS ACIMA, MAIS DO QUE POR FUNDAMENTOS.
APESAR DO FLUXO, a tese do investimento de Pão de Açúcar segue totalmente inalterada!
O resultado do Pão de Açúcar #PCAR3 foi BOM!
A receita líquida cresceu 4% com o formato de proximidade atingindo 63% de participação em São Paulo, com 10 novas lojas abertas do modelo de lojas de proximidade.
Desde o início do plano de expansão em 2022, já foram abertas 169 lojas de proximidade e este é o grande foco da empresa, pela proximidade co consumidor de alta renda e maior margem (quase uma conveniência) e 1 nova loja Pão de Açúcar.
O crescimento de vendas nas mesmas lojas (SSS) ocorreu em todas as bandeiras e provavelmente será um dos melhores do mercado do seu segmento.
O deslocamento da Páscoa para o 2T e um dia a menos no mês de fevereiro jogaram contra, mas ajustando isso houve um aumento de 7,3% nas vendas em mesmas lojas (sss).
As bandeiras Pão de Açúcar e Extra Mercado avançaram 6,5% e 6,6%,
O e-commerce cresceu 17% em relação ao 1T24, com 100% de ship from store (todos os pedidos são enviados aos clientes saindo de uma loja, o modelo é super rentável com margem Ebitda pré-IFRS 16 de 9,9% (ante cerca de 5% do restante).
Outro foco da empresa é aumento de receitas complementares, como Retail Media, com uso de suas lojas para venda de espaços comerciais para os fornecedores e monetizando seu conhecimento do comportamento de consumo do cliente.
A margem bruta atingiu 27,6%, alta de 0,4 p.p vs 1T24 com melhorias em todas as bandeiras
O Ebitda ajustado aumentou 10% para R$ 409 milhões, com margem Ebitda ajustada de 8,6%, melhora de 0,5 p.p vs 1T24
A empresa teve um leve ganho de eficiência com queda de 0,1 p.p. nas despesas operacionais vs o ano anterior – este ponto, na minha opinião, é onde eu gostaria de ter visto um resultado ainda melhor.
Isso porque, como uma tese de turnaround, a empresa precisa melhorar tanto as receitas como – muito – as despesas.
Em meu estudo comparativo com as pares, o Pão de Açúcar ganha fácil com a maior margem bruta, como você pode ver no gráfico abaixo, mas a margem Ebitda não acompanha (pré IFRS, que considera despesas de aluguel das lojas como despesa comercial em vez de despesa financeira)
Ou seja, vejo MUITA GORDURA PARA CORTAR NA PARTE DE DESPESAS e, de fato, isto está ocorrendo e é por isso que a margem Ebitda vem aumentando tanto nos últimos trimestres, mas ainda dá e PRECISA MELHORAR MUITO!

A melhora nas despesas é a principal observação minha nos resultados para a concretização da tese de turnaround, logo após a renegociação de contingências fora do balanço, algo que também está ocorrendo, com a empresa anunciando negociação com São Paulo recentemente.
O 1T25 decepcionou um pouco na redução de despesas, mas isso também é explicado pela sazonalidade do setor, com melhores vendas no 4T, o que permite maior diluição de despesas, e pela pascoa ocorrendo no 2T este ano, o que também impacta negativamente a comparação.
O prejuízo de R$ 93 milhões diminuiu em 74% no 1T25 uma redução significativa frente ao prejuízo de R$ 407 milhões registrado no 1T24 e veio muito melhor que o esperado pelo mercado.
Além do operacional melhor, ocorreu a redução de provisões com reversão de R$ 94 milhões de processos tributários como de IRPJ/CSLL dos anos 2007 a 2013 adesão em abril de 2025 ao programa instituído pela Lei nº 14.689/2023 e o reconhecimento de prejuízos fiscais anteriores (R$ 86 milhões).
A dívida líquida subiu de R$ 1,7 bilhão para R$ 2,4 bilhões, mas a alavancagem medida pelo dívida líquida/ ebitda caiu de 3,0x para 2,8x, já que o Ebitda ajustado pré-IFRS 16 aumentou de R$ 533 milhões para R$ 840 milhões nos últimos 12 meses.
O GPA foca em continuar reduzindo o endividamento!
O fluxo de caixa operacional (FCO)
Importante analisar o FCO em 12 meses, dado que o 1T é sempre sazonalmente de queima de caixa, pela recomposição de estoques e vendas mais fortes no 4T de cada ano.
Nos últimos 12 meses o FCO foi de R$ 1 bilhão e o FCL (Fluxo de caixa livre) estimado para 2025 é de R$326 milhões, sem considerar vendas de ativos, crescendo nos anos seguintes, mediante melhoria operacional.


Houve uma redução nas receitas de venda de ativos, que caíram de R$ 2,3 bilhões para R$ 335 milhões, impactando a geração de caixa total.
Aqui, reside um outro ponto importante da tese de Pão de Açúcar:
A empresa tem ativos para vender e com isso reduzir ainda mais suas dívidas: Entre os ativos que poderiam de alguma forma ser monetizados estão o banco no qual tem participação e algumas lojas menos rentáveis e terrenos.
Valuation atualizado e Conclusão: COMPRAR OU VENDER
As vendas nas mesmas lojas da empresa vêm crescendo a 7% e assim espero, com um percentual acima da inflação e uma margem bruta estável em 27%, que já é a melhor do setor:
