Cristiane Fensterseifer
6 de set de 20235 min
Ontem tivemos o Marcopolo Day onde a empresa nos contou sobre os frutos da reestruturação que vez após a pandemia.
O mercado de ônibus rodoviários que era o principal da empresa secou no Covid com a pausa no turismo por quase dois anos.
A partir da necessidade, a Marcopolo mudou desde sua forma de pensar e até o CEO em uma passada de comando bem sucedida.
No extremo, tiveram que fechar as fábricas por um mês e negar pedidos para se reposicionar, passando uma mensagem para o mercado sobre o que seriam preços sustentáveis de vendas.
No meio da tempestade, lançaram a nova geração top de ônibus, o G8, um sucesso de vendas com maior valor agregado, preços e margens sendo 70% da carteira de ônibus de dois andares.
Atualmente estão com margens melhores que o histórico e que a empresa diz que tudo indica no momento que as margens deve permanecer assim saudáveis, já que os ônibus rodoviários, que tem uma margem maior, já voltaram a ser 40% do mix de produtos dela.
Além do encarroçamento de ônibus elétricos em chassi de parceiros, lançaram um onibus elétrico integral com chassi próprio, “de prateleira” que já roda em várias cidades brasileiras, o Marcopolo Attivi,
Este veículo tem um futuro promissor, e é um desafio da empresa se posicionar sem concorrer com seus clientes.
Também não podemos esquecer do Volare, veículo completo único criado pela Marcopolo, vendido em 48 concessionarias que é líder absoluto no segmento de micro onibus no Brasil.
No exterior, as vendas aumentaram em 57% em 2022 frente a 2021 e os fortes prejuízos durante a Covid foram equacionados e se converteram em lucros, como mostrado no gráfico abaixo:
Por fim, a empresa teve recorde de entregas no programa governamental Caminho da Escola: O edital publicado em 28/08/2023 prevê 16300 unidades e pregão no dia 12/09.
A Marcopolo participa do programa desde 2007 e espero que mantenha um market share de cerca de 60% nesta licitação do programa.
A empresa enxerga 2024 ainda melhor que 2023. E os motivos são:
· Inflação de matéria prima sob controle,
· Início da queda de juros
· Turismo em alta
· Transição odo Euro 6 superada
· Revitalização e transporte público
· Renovação com a entrada de veículos elétricos nas cidades
· Licitação maior do Programa Caminho da Escola
A meta de Ebitda de 12% já foi praticamente atingida no 2T23 e agora conseguem enxergar margens até maiores que isso
Quando o olhamos o retorno sobre o capital investido (ROIC), no entanto, ainda está abaixo da Selic , o que muda com uma Selic mais baixa e resultados melhores como estamos vendo.
A empresa tem muitos impostos a recuperar no balanço que podem ser monetizados ao longo dos próximos meses com os resultados melhores
A Marcopolo tem R$50 milhões que podem ser vendidos e liberar caixa adicional se forem vendidas algumas fábricas como a de Três Rios e Planalto.
A dívida liquida está em apenas 0,6 vezes Ebitda atualmente, em nível muito confortável e a Marcopolo estuda voltar a ter uma remuneração trimestral.
O mercado brasileiro de onibus está experimentando um crescimento acentuado nesta metade de 2023, pela necessidade de renovação de frota, pelo programa Caminhos da Escola e pelo turismo represado pós pandemia, com preço alto das passagens aéreas.
A pandemia aqueceu o volume de onibus de fretamento, comprado por empresas para transportar trabalhadores e isso se mantem aquecido pelos negócios de agronegócio e mineração.
A participação de mercado da Marcopolo no mercado brasileiro varia de 50 a 55% nos últimos anos e atualmente está em 53%.
35% da receita da Marcopolo vem do exterior, seja de exportações ou de fábricas e operações internacionais.
As operações e fabricas internacionais são 67% da receita no exterior da Marcopolo e vem principalmente da operação da Australia que representa 37% seguida pela planta no México (28%) e na Argentina que representa 25% da receita de operações internacionais.
As exportações são 33% da receita no exterior da Marcopolo, que é responsável por metade das exportações de ônibus do Brasil: 84% das suas exportações vão para a America Latina e 15% para a África.
A empresa está buscando parceiros para entrar e aumentar participação em ônibus elétricos no exterior.
Olhando as operações no exterior a África o México apresentam bons resultados e boas perspectivas e a Colômbia e Argentina seque recuperando rapidamente os resultados com o consumo de carteira e repasse de preços.
Já a Australia tem um cenário desafiador nos próximos meses.
De fato, vemos uma melhora muito significativa nos resultados da Marcopolo nos últimos trimestres e anos.
Este é o motivo das ações terem se valorizado bastante e serem destaque nas maiores altas da bolsa nos últimos meses.
Continuo projetando uma contínua expansão de vendas e produção , que você pode ver nos gráficos abaixo da projeção, com a necessidade de renovação de frota, queda d e juros e programa caminhos da escola.
Tivemos também uma melhora significativa de margens nos últimos trimestres e eu incorporei a manutenção destas margens mais altas no meu modelo, como você pode ver no gráfico abaixo, de forma a verificar se estas premissas gerariam um preço alvo maior para a ação.
Após a alta de mais de 100% desde as mínimas, os múltiplos da Marcopolo já estão um pouco altos na minha opinião , considerando om múltiplo de 9 vezes EV/Ebitda estimado para este ano – veja no gráfico abaixo.
Olhando o preço atual, após as altas, me parece que a ação já está bem precificada e eu encontro um upside de cerca de 16% e um preço justo de R$7,5, no qual não enxergo tanta margem de segurança como para outros ativos da nossa carteira recomendada.
Reconheço que o momento da Marcopolo é positivo, após as melhorias na gestão e turnaround pós sofrer bastante com o covid e a interrupção das viagens de ônibus.
Mas, no preço atual, entendo que boa parte deste cenário positivo já está incorporado no preço da ação.
Com os múltiplos mais altos de Marcopolo, e pouca margem de segurança ou upside nas ações considerando as margens atuais, prefiro permanecer em players do setor automotivo com o a Tegma (TGMA3) a qual tenho recomendada na carteira All In One.
Para fins de comparação abaixo coloco uma tabela onde mostro que o múltiplo EV/Ebitda da Tegma é menor que o da Marcopolo (ou seja, a ação é mais barata neste quesito).
As margens de Tegma são maiores e a rentabilidade por ROIC também, bem como seus proventos.
Por conta disso, permaneço com Tegma na carteira em detrimento da Marcopolo neste momento
Abraços
Cristiane Fensterseifer, CNPI, CGA, consultora CVM
06/09/2023